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terça-feira, 14 de abril de 2009

"Talvez um poema pudesse resolver-te"


A consciência atrapalha tudo.


Do céu caem gotas como dos seus olhos que tentam ler linhas do Adeus às Armas.

Madalena vira-se nos lençóis como quem resiste. E a lucidez do “querer por inteiro”, validada pela experiência de quem é atirado e retido no mar enquanto todo o corpo e mente lutam para vir à tona, mantém-na a um passo da loucura.

“Talvez um poema pudesse resolver-te”, soubera-o dias antes.


E quando conseguiu levantar-se, um raio de sol feminino cumprimentou-a.
Madalena, dos olhos doce, estava novamente viva.


Aquela que posso ser.


Imagem de Nuno Medeiros.

sábado, 11 de abril de 2009

Olhos como água em Barcelona

















Morre lentamente
Por tantas coisas alertou o poeta

O Diogo era um homem que não via aquelas árvores que florescem todas no mês dos namorados. As Magnólias.

Madalena não via a sombra dos dias de Abril. Só via cravos ou espinhos de rosas escuras.




Em dado momento Madalena conhecera uma pessoa. Trocava com ela cartas de amor também ridículas.

Passaram dias e dias de amor e palavras. Era tão platónico como firme.

E num dia de Novembro mascarado, ela partiu para numa viajem. Sozinha aventurou-se numa estadia típica de residência espanhola. E ela? Sempre perto de Madalena.
Madalena fazia de um tudo para arranjar um computador qualquer para lhe dizer um olá ou mil beijos. Prostituía-se para poder ligar-lhe e ouvir aquele tom saudoso de quem acompanhava a par e passo os seus dias catalães.

E Madalena, que linda a caminhar por entre os girassóis e gomas das ramblas. A fotografar-se, e ao que a atropelava, para nada escapar.

O Diogo por essa altura não via Madalena. Tinha-a perdido como tantas vezes. Diogo andava, também ele, perdido. Não conhecia ainda a cólera do Amor de Gabriel.




Aquela que posso ser.


Foto tirada em Barcelona, uma fonte.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Madalena dos olhos doces, ou o Diogo que eu matei!




A história é do Diogo (nome que sempre quis dar a alguém), rapaz na casa dos trinta (não vou precisar para não dar asas a possíveis analogias) de pele incrivelmente hidratada e morena.

Alto, muito alto (esta descrição depende sempre dos olhos que o vêem), com os maxilares bem marcados e com um olhar que atravessa o além. Ela, a Madalena, via-o assim. Mas mais ainda. A sua cegueira via-o com aura iluminada, sentia o seu perfume como o melhor aroma de sempre, via nos traços marcados da sua cara morena, pintalgada por pontinhas de barba escura, desenhos de beleza.


Ela, a Madalena, estava apaixonada.

Era daquelas mulheres muito ameninadas que ninguém imagina capaz de uma paixão tão violenta.


Madalena tinha longos cabelos indisciplinados da cor do ouro antigo. A sua pele adivinhava tatuagens do tempo, e os seus dentes sorriam brancos. Tinha uns olhos doces. Era a Madalena dos olhos doces.

Quando ela o conheceu, o Estio impunha-se com vontade. Foi numa tarde igual a todas as outras, aquelas que perdemos o tempo de forma consciente e preguiçosa. Ela nem se apercebeu do impacto daquela tarde sufocante, mas as borboletas pela barriga (ou pelo corpo todo) lembram-lhe ainda naquela noite, e depois mais tantas noites.

Madalena planeava os seus dias segundo um eventual encontro fortuito com Diogo. Os dias, que se seguiram àquela tarde, eram todos de vaidade.

Já Diogo não se deixou avisar por borboletas. Era tão desprendido quanto o vento do norte. Não via Madalena antes de dormir, nem tão pouco acordava com ela a sorrir. Diogo, era homem que não estava habituado a sorrir, mas era arlequim em grupos de cafés. Diogo decidira-se por uma aparência rigorosa mas frágil a olho nu.

Entre as várias vezes que se iam cruzando, Diogo e Madalena, o êxtase físico ia-os massacrando.

Chegou o primeiro beijo. Aconteceu depois de várias horas tagareladas numa tarde à beira mar. Tremiam enquanto os lábios de ambos se descobriam cautelosamente. Madalena estava com o coração aos pulos. Os seus olhos estavam mais açucarados que nunca e ardiam em mistério. Diogo sentia-se diferente, resistia incoerentemente às pistas que o seu coração lhe mandava.

Várias estações passaram repetidas.

A paixão ou encantamento daquele primeiro verão quente durou.

E a transformação das borboletas trouxe sentimentos mais suaves e cómodos aos dois.

Diogo e Madalena gostam-se. Mas o amor deles morreu.

Madalena ainda hoje grita por esse amor que jurou para sempre. Diogo matou-o há muito tempo quando se resignava a contemplar o que considerava imutável.

Eram muito iguais. Apesar das características visíveis que os autenticavam, ambos eram uns sedutores. Sofriam desesperadamente pelo grande amor novelesco em que apostaram, enquanto se escondiam em máscaras felizes e se vendiam à boémia traiçoeira.

Diogo que vivia em excessos precoces, agarrado a limitações que não o despertavam, suicidou-se anos mais tarde.

Já Madalena terrivelmente consciente, que passeava por trapézios como por poesias, conteve a sua infelicidade em choros como os de Amália, em versos românticos e em limites neuróticos.

Madalena fez o luto como as mulheres do mar. E só depois morreu, com a esperança já morta, abraçada à consciência, sua inimiga mais duradoura.





Aquela que posso ser.




"No planchar - do not iron - ne pas repasser"150x150cmtécnica mista2009 de Célia Machado